Cena 1ª
Cena 2ª
Marcelo, um jovem filosoficamente impulsivo, e politicamente inconstante. Confuso, visivelmente desgastado, e, ainda assim, extraordinariamente prático. Simplesmente Marcelo.
Preocupado com Marcelo, que há dias não aparece no colégio, Henrique decide visitá-lo depois da aula para saber o que está acontecendo, mesmo que ele já tenha ideia do que se passa com seu melhor amigo.
Cena 2ª
Marcelo, um jovem filosoficamente impulsivo, e politicamente inconstante. Confuso, visivelmente desgastado, e, ainda assim, extraordinariamente prático. Simplesmente Marcelo.
Preocupado com Marcelo, que há dias não aparece no colégio, Henrique decide visitá-lo depois da aula para saber o que está acontecendo, mesmo que ele já tenha ideia do que se passa com seu melhor amigo.
Henrique toca a campainha e espera pacientemente até que alguém venha atender a porta.
- Oi, Dona Natalina. O Marcelo tá por aí?
- Quanto tempo, Henrique! Sobe lá, acho que só você consegue tirar o Marcelo daquele quarto.
Henrique bate na porta e espera pacientemente até que Marcelo venha abri-la.
Mas ele não vem.
Henrique bate novamente.
Em vão.
Henrique decide entrar no quarto, e se depara com o caos. A impressão é de que um maremoto bagunçou todo aquele lugar. Um maremoto de informações, talvez. De informações não tão bem assimiladas.
Fotos e livros espalhados por todo o quarto.
Gavetas e armários abertos e totalmente revirados.
Latas de energético empilhadas sobre a prateleira.
Uma garrafa de whisky pela metade ajuda a decorar o ambiente.
Praticamente escondido em meio a tudo isso, está Marcelo, jogado sobre a cama. Imóvel.
Henrique decide não acordá-lo. Prefere aproveitar o momento para perscrutar o quarto e tentar entender o que se passa com seu melhor amigo. Dentro de uma das gavetas da cômoda, um papel rosado, manchado de sangue, lhe chama a atenção.
"Para Marcelo:
A vida é engraçada. Antes de te conhecer, não me via conectada a nada. Também não enxergava nada que me prendesse a esse mundo. Não que eu esteja conectada ou presa a você, mas é bom saber que agora eu consigo ver um ponto de partida. Nunca te disse isso. E provavelmente nunca direi. Mas eu gostaria que soubesse.
Um dia, se tudo der certo, não precisarei mais fazer essas cartas, pois serei capaz de te dizer tudo isso abertamente. Enquanto esse dia não chega, continuarei a te escrever, na esperança de que você possa se encontrar nas minhas palavras.
Não quero tuas sonatas em ré.
Marcelo, eu quero ser tua.
Da cabeça ao pé.
Clarice"
A lista com as últimas chamadas do celular de Marcelo era particularmente perturbadora. Durante os dois últimos dias, ele recebeu diversas ligações de Clarice. Nenhuma delas foi atendida.
Intrigado, Henrique ainda tenta olhar mais algumas coisas no celular, mas a bateria acaba logo depois. Frustrante.
Em ritmo lento, Marcelo desperta. Estranhamente, ao abrir os olhos e enxergar Henrique mexendo em suas coisas, sequer esboça reação. Um olhar desorientado e distante é prontamente confrontado por um olhar de reprovação.
- O que você tá fazendo aqui, cara?
- Você sumiu. Não dá notícias. Ninguém sabe de você. Até sua vó tá preocupada, Marcelo.
Olha em volta. Te liga na zona que tá o teu quarto. O que você tá fazendo com a sua vida, cara?
- É a Clarice. Ela me desmonta.
Henrique era um bom amigo. Marcelo sabia disso.
Marcelo, um jovem impulsivamente filosófico, e musicalmente abalado. E não era para menos: seu coração havia sido demitido por justa causa.
Talvez não tão justa assim.
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