sexta-feira, 28 de setembro de 2012

silêncio.

Essa carta te escrevo, mas palavras não quero te dizer. O silêncio fala por mim. Sim, perdemos a conexão e o volume está voltado para o zero, fruto da interferência existente entre nós dois. O silêncio ameaçou ir embora, porém virou a esquina e nos acertou diretamente no peito. Baita desilusão.
Eu lembro como tudo aconteceu. Era um dia chuvoso, e a depressão aproximava-se rapidamente, martelando repetidas vezes cada esboço de sorriso que havia em nossos rostos. Ouvíamos Smiths e examinávamos as músicas, procurando um ao outro nos versos. E éramos capazes de nos encontrar. Porém não foi suficiente, e sinto muito por isso. A música foi diminuindo, e logo o silêncio chegou, tomando conta das lacunas que existiam entre nós.
Encosto a cabeça no teu ombro, procurando conforto depois de tamanha decepção. Silêncio. Nada se diz e nada se ouve. Nada se cria e nada muda. Aliás, confesso que essa estagnação me incomoda. Diferentemente de tempos atrás, quando tudo era reconfortante, hoje eu não me sinto mais tão seguro quando olho nos teus olhos procurando a saída das coisas que me afligem. Esse silêncio dói.
A estação mudou. O frio chegou, e junto com ele, vieram as incertezas. Junto com o frio, veio o amor. Mas não o nosso amor, afinal esse nosso amor sempre esteve aqui ao lado, a gente só evitava encontrá-lo, pois preferíamos nos amar em silêncio. O horário também mudou, e infelizmente, não é mais a nossa hora. Mudou o tempo. Mudou o clima. O silêncio permaneceu.

domingo, 23 de setembro de 2012

vírus.

Sala lotada, um calor intenso, as pessoas agitadas começavam a se irritar. O burburinho crescia:
- Meu Deus, o que é isso?! - gritou a mulher com o bebê no colo.
Após o grito, um silêncio ensurdecedor tomou conta da sala. As pessoas se entreolhavam com perplexidade, sem entender o que estava acontecendo. Em poucos segundos, todos os olhos estavam voltados para a mulher que havia proferido o grito. Ela parecia alucinada, estava arrasada e chorava compulsivamente.
A curiosidade já tomava conta de todos que estavam no local, quando ouviu-se a seguinte frase:
- Como assim deu positivo? É impossível. Isso tem que estar errado - A mulher acabava de descobrir que havia contraído o vírus HIV. Em pouco tempo, sua vida mudaria completamente, e ela obviamente não estava preparada para isso.
Muitas pessoas que acompanhavam essa cena começaram a se emocionar, enquanto o desespero da mulher ia aumentando gradativamente.  O caos tomava conta do hospital, e alguns médicos tentavam acalmar a moça, mas sem sucesso. O silêncio já não existia mais. No lugar do silêncio, ouvia-se a voz dessa mulher, somada ao choro do bebê que estava em seu colo.
Após receber essa notícia, o olhar da mulher parecia distante. Seu coração palpitava fortemente, causando a sensação de que sairia por sua boca a qualquer momento. - Por que? Por que? Por que? - ela questionava incessantemente. Era uma pergunta retórica. Ela sabia muito bem quais atitudes haviam lhe colocado nessa situação perturbadora, só não queria admitir. O arrependimento veio à tona, já que tudo era fruto da vida fútil que ela levava anteriormente, e que a partir de agora, vai se arrepender amargamente.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

frases engasgadas.

Sem introduções desta vez. Não leve a mal, mas não tenho tempo para isso. Olho no espelho e vejo alguém sem saída. Me procuro e não encontro nada. Sou a ponta da loucura, que se mantém iluminada. Sou um resto de esperança à beira dessa estrada. Observo os versos e percebo que são só palavras jogadas aleatoriamente, quase como naquela vez em que nos encontramos sem querer, e que você provavelmente nem se lembra mais. Eu lembro. Eu sempre vou lembrar.
São tantos momentos que deveríamos recordar, mas não o fazemos, afinal estamos ocupados demais trilhando um caminho que nos levará à lugar nenhum. E é nesse lugar que os versos ganham sentido, mas o caminho é longo, e, infelizmente, o sofrimento não é opcional. Diante de tantos obstáculos, ter você aqui me remete ao tempo em que as coisas eram mais simples. Eu vou rezar para esquecer, pois não quero lembrar do que eu fui para você. Mas você não vai deixar. É, você não vai deixar.
Mesmo que o sol tente aquecer, dentro de ti está tão frio. Aliás, a temperatura cai gradativamente, e eu não sei lidar com isso. Talvez esse seja nosso único ponto em comum, já que todo o sangue que nas minhas veias flui, ainda não conseguiu aquecer meu coração. E dói demais saber que nada disso existe. Dói demais ver que a ilusão se engrandeceu novamente.
Se eu te disser que eu não vou mais voltar, é porque eu cansei de agonizar, e provavelmente não suportei a dor. Se eu te disser que eu não vou mais voltar, é porque a verdade passou diante de meus olhos, e num raro surto de felicidade, eu me joguei de cabeça nessa piscina de sentimentos, sem medir a profundidade. Se eu te disser que eu não vou mais voltar, por favor não me procure, pois o que hoje você vê, é apenas um olhar, daquele que quer viver em um sono profundo.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

nada.

Parou em frente ao espelho e observou o teu semblante por horas. Tentou decifrar alguns enigmas que estavam escondidos sob a pele, só não conseguiu perceber que os enigmas estavam por todo lugar, inclusive onde ele menos esperava.
O brilho, dos olhos desapareceu, perante o esquecimento inevitável. O grito, com o tempo emudeceu, perante um sentimento insustentável. O sorriso, do rosto desapareceu, perante o sofrimento incontestável. Irreal. Surreal. Inabalável. Os diagnósticos possíveis são muitos. Os prováveis são alguns. São várias as teorias e elas vem de todo lugar, mas só uma realmente importa. E não, eu não falo da dor. Eu falo da angústia que é não sentir nada. Eu falo da vontade perturbadora de saber quanto dura a abstinência do nada.

São diversas noites de auto-medicação. Se expôs à uma amnésia auto-conduzida, numa tentativa desesperada de tentar evitar a explosão. Mas o óleo já estava prestes a se encontrar com as faíscas. E será luminosa a explosão, assim como o meteoro que visita meus sonhos toda noite, no exato momento em que meus olhos ameaçam encontrar as órbitas.
Sim, a incompatibilidade com o restante do universo incomoda, e às vezes parece que isso é apenas um capricho da vida, que tenta te fazer acordar e refletir a respeito dessa tamanha desilusão. Mas cá estamos, desiludidos e desamparados, esperando a salvação que não virá do céu. Do céu, só virá a chuva, com a função de misturar-se às lágrimas que caem continuamente dos nossos olhos.