terça-feira, 26 de março de 2013

Sobre a tal da "megalomania"


Definição conceitual de "megalomania":

1. Psiq. Mania de supervalorizar, engrandecer e embelezar tudo que diz respeito a si mesmo;

2. P.ext. Gosto exagerado ou obsessão por tudo que é grandioso, valioso, imponente, majestoso, que leva o indivíduo a supervalorizar ou a idealizar as coisas de modo a perder a noção da realidade; mania de grandeza;

3. Ambição desmedida.
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No ano passado, fui bombardeado com a notícia de que a Fresno iria para os Estados Unidos. E mais: a Fresno iria TOCAR nos Estados Unidos. Há alguns anos, num longínquo 2006, alguém era capaz de imaginar que isso algum dia viria a acontecer? Nem o fã mais fervoroso poderia prever algo tão fenomenal para o futuro da banda. Acho que nem mesmo o Lucas e o Vavo, quando montaram a banda, lá em 1999, conseguiriam imaginar os "Democratas" tocando na terra do Tio Sam. Mas aconteceu!

Um dos princípios básicos da alteridade - conceito filosófico que parte do pressuposto de que todo o homem social interage e interdepende do outro - diz que "tudo aquilo que é diferente, ou eu ignoro, ou eu combato". De fato, temos tendência a temer o "novo", e por isso muitas vezes acabamos estagnados na mesmice, sentenciados à reclusão. Mas a Fresno é diferente: a banda vai atrás daquilo que muitos convencionaram chamar de "impossível".

Sem fazer muito esforço, consigo lembrar de pelo menos quatro ideias ÉPICAS - que muitos julgariam impossíveis - que a banda conseguiu tornar realidade no último ano: em julho, eles lançaram o clipe de "Infinito", e esse clipe passou bem longe da tal "mesmice". MÊO, O CLIPE FOI FILMADO NO ESPAÇO!!!!! Imagina você chegando para alguém e dizendo "ah, pro clipe eu to com a ideia de amarrar uma câmera num balão e mandar lá pro espaço". Pode ter certeza de que vão te chamar de louco.

Em novembro, os caras lançaram o sexto álbum da história da banda, e o ideal por trás da palavra "infinito", inclusive, é tão grandioso que esse foi o nome escolhido para batizar o álbum. E o "Infinito" não é pouca coisa não! O álbum é completamente EXTRAORDINÁRIO e MEGALOMANÍACO. Aliás, arrisco dizer que esse disco é a coisa mais sensacional já feita pela Fresno durante seus 13 anos de existência. Suficiente? Jamais!

Em janeiro deste ano, mais de 7 mil pessoas puderam ver o projeto "World Bike Show" virar realidade. A Fresno, em conjunto com o World Bike Tour, fez um show de apelo sustentável e de caráter inédito, lotando o Parque do Ibirapuera, em São Paulo. A ideia era de fazer um show com "energia limpa". Essa energia seria produzida pelas pedaladas da "Volta ao Mundo", estrutura sustentável do WBT, instalada também no Parque Ibirapuera. Um show de rock movido a pedaladas. Megalomania pouca é bobagem.

Mas os caras não pararam por aí, e recentemente viajaram aos EUA, para fazer o seu primeiro show fora do Brasil. A Fresno tocou no festival South By Southwest (ou SXSW), no Texas, e o show teve a ilustre presença de Christopher Carrabba (himself!), vocalista do projeto Dashboard Confessional, uma das maiores influências da banda. O CHRIS CARRABBA PAROU PARA ASSISTIR OS CARAS!!!!!! Parece inacreditável, mas essa palavra já não existe mais no vocabulário de quem acompanha a Fresno.

"Muitos pensam que a vida gira em torno de uma revanche, mas não nos leve a mal, pois tudo que a gente deseja é viver mais, poder dizer mais e quem sabe sentir mais. Estamos a sete palmos do chão, voando rumo a nossa redenção, já que lá pode ter um novo amor para a gente viver. E é nesse lugar que queremos viver para sempre, rodeados de impossibilidades e velhas histórias, ouvindo os simples relatos de um homem de bom coração."

A "megalomania", meus caros, existe. E ouso afirmar que o mundo seria muito mais interessante se todos nós tivéssemos coragem suficiente para nos tornarmos um pouco mais megalomaníacos. A busca pelo tal horizonte infinito continua, e seguiremos trilhando este caminho incessantemente, sabendo que, ao final de tudo, você vai ouvir falar de nós.

"Lhes adianto uma coisa: o mundo parece grande, mas ele tem o tamanho que a gente quiser. Sonha GRANDE, sonha GIGANTE, e faz algo a respeito", SILVEIRA, Lucas.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Sobre a linha tênue entre ilusão e decepção

Na noite passada, aquele velho relógio parecia ter algo de especial. Seus ponteiros, quase tão grandes quanto a minha ansiedade, pareciam arrebatadoramente estagnados. Eu o encarava incessantemente, e, por alguns momentos, tive a sensação de que nenhum minuto havia se passado.
A intensidade com que eu observava o relógio acabou despertando a atenção de uma das garçonetes do local, que decidiu perguntar se eu estava bem. Não percebi que ela estava se dirigindo à mim, e por isso hesitei alguns segundos para respondê-la. "Sim. Só estou ansioso". Ela, então, decidiu perguntar se eu estava à espera de alguém. "Sim. Marquei às 20h com a garota com quem quero me reconciliar". Foi aí que toda a minha ansiedade se dissipou: "Mas já são 21h30, senhor".
Não, a minha garota não apareceu. Ao invés dela, quem deu as caras foi aquela estranha sensação de vazio, que vez-por-outra aparece, sempre que percebo que me iludi novamente. As lágrimas também apareceram, e foram tantas que não couberam dentro dos olhos, e escorreram por toda a extremidade do meu rosto. Chorei copiosamente na mesa do restaurante, observado pela garçonete e por todas as outras pessoas que ainda estavam por lá.
É duro ter de admitir que tudo isso não passou de uma ilusão; duro também é ver que a ilusão em questão em nada se relaciona com as ilusões que dão o tom aos números de mágica. Na noite passada, a mágica estava por todo o ambiente, mas o número final, infelizmente, era o do desaparecimento. Na noite passada, o cenário parecia estar plasticamente moldado para uma ilusão. Hoje, porém, até quem me vê lendo o jornal na fila do pão sabe que eu me decepcionei.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Sobre olhares e paixões de metrô


Talvez uma das minhas maiores tristezas diárias esteja diretamente relacionada às "paixões de metrô": aquelas momentâneas, consumadas apenas por algumas trocas de olhares - às vezes nem isso! - e encerradas bruscamente pela necessidade de descer na próxima estação.
O trecho Luz - Ana Rosa foi feito em um piscar de olhos. Eu estava distraído, e a encarava como se não tivesse nada a perder - e, de fato, eu não tinha. Ela sabia que eu a estava encarando, e movia seus olhos vagarosamente em minha direção. Nos instantes em que nossos olhos se encontravam, ela abaixava o rosto e exibia um sorriso desajeitado, mas não tão desajeitado quanto o meu.
A troca de olhares continuou, estação-após-estação. Fomos interrompidos somente uma vez, no momento em que uma senhora se colocou entre nós. Numa reação instantânea, me movi para o banco ao lado; continuei olhando para a minha paixão de metrô e arquitetando situações e diálogos perfeitos, os quais eu sabia que nunca aconteceriam.
Chegamos à Ana Rosa - na hora, eu estava tão concentrado no nosso "jogo" de olhares que nem percebi em qual estação estávamos. Infelizmente, era o destino da minha paixão de metrô. Ela desceu e meu olhar a seguiu, mesmo que involuntariamente, até que as portas do metrô se fecharam e eu não consegui mais vê-la. O jogo havia terminado, e não havia vencedores.
Talvez uma das minhas maiores tristezas diárias esteja diretamente relacionada às "paixões de metrô", mas acho que esse é o meu tipo preferido de paixão, já que é bem mais fácil se apaixonar por apenas alguns minutos do que por toda uma vida.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Sobre Mila, o garoto que decidiu ser um Nerd Calculista

Mila, que outrora possuía diversos lampejos literários e sonhava em ser escritor, se viu diante de um emaranhado de metáforas incompletas e, pela primeira vez em toda sua vida, não foi capaz de interpretá-las. De repente, toda aquela parafernália léxica lhe parecia obsoleta. Foi aí que ele decidiu se tornar mais um desses Nerds Calculistas. 
Pobre Mila. Ele não tinha a menor ideia do que estava fazendo - e provavelmente não sabe até hoje. O fato é que ele estava se sentindo inseguro, e, todos nós, quando nos sentimos inseguros, temos tendência a fazer algum tipo de mudança, seja em nós mesmos ou em algo que nos afete direta ou indiretamente. O problema é que Mila nunca soube lidar com mudanças.
Algumas pessoas afirmam que, em seus últimos dias "normais", o jovem Mila estava obcecado pela história de Cálculos, o deus grego da matemática. A lenda diz que Cálculos começou a estudar matemática para tentar preencher uma espécie de vazio que lhe acometia o coração. Bom, apesar de dominar todas as sintaxes e ser o rei das sinestesias, Mila não se sentia bem consigo mesmo. Ele simplesmente não se encaixava. É nesse ponto que sua história se assemelha à história de Cálculos.
Pobre Mila. Ele não tinha a menor ideia do que era ser um Nerd Calculista - e provavelmente não sabe até hoje. Talvez ele tenha se deixado levar pela lenda de Cálculos. Talvez ele tenha gostado da insegurança que a possibilidade de ser um calculista lhe trazia. Ou talvez ele simplesmente tenha sido vencido pelo vazio - que com o tempo também foi lhe acometendo o coração. Isso, de fato, é algo que nós nunca saberemos.
Quanto aos Nerds Calculistas, bom, eles existem. Não é possível dizer ao certo o que fazem, ou quem são. A única característica deles da qual temos conhecimento é a sua enorme capacidade de concentração; concentração essa que faltou - mesmo que apenas por alguns instantes - à Mila, mas que hoje se faz presente no mais absorto dos Nerds Calculistas.