quinta-feira, 25 de abril de 2013

Sobre a menina do óculos aviador


Ela usa um desses óculos modelo aviador, sabe? É bonitinho, até. Consiste em uma armação marrom, com hastes finas e umas lentes grandinhas, quase tão grandes quanto as do óculos que eu costumava usar, mas que acabou desgastado pelo tempo. Ela tem miopia. São vários graus no olho direito. Outros tantos no olho esquerdo. Mesmo assim, ela foi capaz de enxergar algo de bom em mim, no exato momento em que nossos olhos se encontraram.

Ela usa um desses óculos modelo aviador, sabe? Combina com ela, até. Na verdade, combina tanto, mas tanto, que é praticamente impossível imaginá-la sem este acessório. Quase tão impossível quanto recostar a cabeça no travesseiro e não lembrar das pinturas mentais que faço toda noite, na tentativa de que meu quadro imaginário possa eternizar todas as nuances pretendidas pela artista, que, ironicamente, usa um óculos modelo aviador.

Ela usa um desses óculos modelo aviador, sabe? Talvez seja isso que faça com que eu me sinta nas nuvens todas as vezes em que os nossos olhos se encontram.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Sobre cafeína, ruivas e viver para sempre

Madrugada adentro, milhões de pensamentos fumegantes eclodiam em sua cabeça; um deles se sobressaía: queria viver para sempre. A obscuridade do céu da madrugada já dava lugar ao primeiros raios de Sol da manhã. E ela ainda estava lá, no mesmo lugar em que havia passado os últimos três dias. Levou tempo para que ela chegasse a essa conclusão, mas um fator foi determinante: o fator coração. Ela estava amando novamente.

A mesa de seu quarto estava completamente bagunçada. Xícaras de café estavam por todos os cantos, indicando que, ao menos nos últimos dias, ela havia se rendido à cafeína como um último esforço desesperado para se manter acordada. Ela não queria dormir. Havia tanto a se fazer. Havia tanto a ser escrito. 

Seu diário estava aberto na página oito. Lá, era possível ver diversas citações de "Peter Pan", o livro de J. M. Barrie. Uma delas se destacava: "Ela lhe contou histórias, ele a ensinou a voar... Amavam-se, mas ele não queria crescer." Ela estava lendo "Peter Pan", e isso explica o "querer viver para sempre". Somado à paixão, esse "querer" havia adquirido uma força imensurável, e ela se entregou.

Ela permanecia sentada, com uma xícara de café em mãos e os olhos voltados para o diário. Seu pensamento, no entanto, estava distante dali. Parte dele ainda remetia à história de Peter Pan; a outra parte, por sua vez, remetia à ruiva que estava presente em muitas das páginas desse diário, e que definitivamente havia lhe conquistado o coração.

Quer viver para sempre? Deixa um escritor te amar.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Sobre satélites e sonhos


Quem dera eu fosse um astronauta. Lá em cima, flutuando entre galáxias e satélites, eu teria livre acesso às estrelas as quais eu olho toda noite, no momento em que fito o céu buscando algum tipo de conforto. Talvez eu queira ser um astronauta apenas para poder provar que a Terra não é azul, já que daqui eu só vejo cinza. Talvez eu queira ser um astronauta simplesmente para poder te enxergar milhões de vezes menor, sem ter a certeza de onde você está, e assim evitando todo o mal que você me faz.

Foram diversas as noites em que sonhei ser um astronauta. Era pena não poder ouvir as exaltações das pessoas que por ali estavam. Nos sonhos, tudo que se ouvia eram os sons de uma atmosfera exorbitante, capaz de impressionar até mesmo o mais cético dos astronautas. Ouvia-se o farfalhar das estrelas e o fragor saindo da Lua. Os satélites, ardilosos como sempre, permaneciam imóveis, como se estivessem aguardando por algum movimento daquele estranho astronauta que os encarava, incrédulo. Fora daquela alameda dos sonhos, que já parecia ser algo verdadeiro, ouvia-se o gorjeio dos pássaros, o bater de asas das borboletas e o murmúrio de um jovem que sonhava ser astronauta. Infelizmente, todos eles estavam invisíveis devido à nebulosidade do mundo real, que em nada se relaciona com a tal alameda dos sonhos.

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Ao fitar as estrelas, me recordo vagamente de te ouvir vociferar andrômedas e ursas menores, proliferando as mais diversas constelações de sentimentos em mim. No entanto, se o que me pedes é espaço, virarei um astronauta do amor, só para te ver feliz, a sós, ou comigo, feito nós.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Sobre a discrepância do destino

Na noite de ontem, o meu coração explodiu. Foi bem bizarro, inclusive. Partículas de coração saíram voando por aí, atingindo a cabeça dos mais desavisados, mas eles não pareciam se importar. Estavam ocupados demais traçando metas e planos mirabolantes. Porém eu não os culpo, afinal eu costumava ser assim também.

Na noite de ontem, o meu coração explodiu. E foi luminosa, a explosão. Um clarão estonteante tomou conta de tudo que estava à volta, engolindo a escuridão da noite por completo. A explosão foi luminosa a ponto de acordar todos que estavam ali por perto, mas não foi o suficiente para fazer você me enxergar.

Na noite de ontem, o meu coração explodiu. Junto com ele, explodiu tudo aquilo que eu achei que seria eterno dentro de mim. De sentimentos que há muito estavam esquecidos a sentimentos que há dias me impediam de respirar. Tudo se foi. Só restou uma pequena ponta de saudade, que se recusou a partir junto dos outros sentimentos.

Na noite de ontem, o meu coração explodiu. E cá estou, perdido na rua Himmel, com um coração partido em mãos.

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Fica. Me dá só mais alguns minutos. É tudo que eu preciso. Prometo que não vou me prolongar. Ahhhhh, Maria. Há tempos eu não te vejo. Por onde você andou durante todos estes anos? Por que nunca mais me ligou? Por que não me olhas nos olhos, Maria? Aparentemente nada mudou, não é? É, nada mudou. Maldita discrepância do destino.