quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Sobre bilhetes e partidas

De uma hora para outra, ele decidiu partir. Seus olhos, grandes e melancólicos, estampavam as milhões de dúvidas que, dentro de alguns minutos, partiriam junto com ele. Não obstante, seu rosto amargurado indicava que a decisão, afinal de contas, havia sido precipitada. Mesmo assim ele resolveu partir.
A expressão daquele homem esquisito e fleumático, que por anos buscou a forma mais apropriada de demonstrar o seu amor, evidenciava a exaustão. Aparentemente, sua espera tinha chegado ao fim. A verdade é que não existia uma rota traçada e muito menos um caminho a ser percorrido. Sequer havia um motivo que justificasse sua partida repentina. Ainda assim ele optou por partir.
Carregando consigo apenas uma bolsa marrom, desgastada pelo tempo e umedecida pela tempestade já iminente, ele partiu. Enquanto a distância entre nossos corpos aumentava significativamente, tudo que fiz foi observar. Divaguei por um curto período de tempo e uma frase pareceu formar-se em minha boca, fazendo-me balbuciar palavras com hesitação; mas não saiu som algum. Eu poderia tê-lo impedido, mas não o fiz. E então ele partiu.
Tentei enxergá-lo pela última vez, por entre as árvores esvoaçantes, e só então me dei conta de que o havia perdido para sempre. Ainda hoje, os arrependimentos e as lembranças vez-ou-outra voltam a me atordoar. De concreto mesmo, só restou um pequeno bilhete escrito num papel esverdeado; um bilhete que eu havia escrito com a mais sincera das intenções, mas que, assim como o meu amigo viajante, jamais chegou ao seu destinatário.