quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Sobre telefonemas e impossibilidades

Impossibilidade 1:

"Cara, você acredita no amor?" Não.

Por que não me visitas?

O telefone tocou. Atendi ao primeiro toque. Do outro lado da linha, uma voz estranhamente familiar - e que há tempos eu não ouvia - me fazia uma proposta irrecusável. A voz, doce e terna, conflitava com a minha afobação ao ouvi-la. Pouco tempo depois, lá estava eu, amando novamente.
Aquele antigo, doce e quase extinto tipo de amor estava de volta. E, de fato, ele não veio só. Trouxe consigo uma espécie de "calefação", que se tornou responsável por boa parte dos acontecimentos decorrentes. O coração, antes gélido, agora se encontra na temperatura ideal, aguardando ansiosamente pelo termômetro da tua presença.

Sim, nosso amor está a salvo.

Impossibilidade 2:

"Cara, você acredita no amor?" Sim.

Por que insistes em me visitar?

Fiquei esperando a noite inteira por um telefonema que não veio. Decidi, então, espiar através da janela, numa tentativa patética de te ver pela última vez, ainda que fosse apenas por alguns segundos. Tuas cortinas estavam fechadas.
Aquele confuso e famigerado amor estava de volta. Junto com ele, uma nefasta e conhecida sensação de insegurança, que me acompanha desde então. Ao fitar as estrelas, me recordo vagamente de te ouvir vociferar andrômedas e ursas menores, proliferando constelações de sentimentos em mim. A lembrança permanece. O vazio também.

Sim, nosso amor está em apuros.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Sobre adjetivos e descrições

"Descrição - caracterização de pessoas, objetos ou lugares, particularizando o que deseja-se ser ressaltado."

Liguei o modo descritivo. Adentrei o mais meticuloso e inconstante dos teus sonhos e lá permaneci, incrédulo, tornando-me um mero objeto descritivo para teus pensamentos polissêmicos. Não que eu me importe - e de fato, não me importo -, mas a tua inconstância me desvirtua, e me faz pensar intensamente antes de escolher os adjetivos que melhor poderiam te descrever.
Abandonei o modo descritivo. Perambulei arduamente pelo teu coração, perscrutando cada fresta, sondando cada um desses caminhos bilaterais e vasculhando minuciosamente todas as arestas, tentando encontrar algum mero resquício de sentimento que pudesse justificar todo o meu esforço para te manter aqui, intacta. Mais uma vez, nada foi encontrado.
Tentei encontrar a melhor maneira de nos descrever. Fui surpreendido por uma enorme escassez das chamadas "palavras apropriadas", aquelas que, assim como um persuasor ardiloso, surgem subitamente, prontas para contornar uma situação complicada. Também esbarrei em meus próprios conceitos, já que considero improvável a possibilidade de conseguir nos descrever de maneira sensata.
Tentei encontrar a pior maneira de nos descrever. Abruptamente, uma quantidade infindável de adjetivos me veio à cabeça, catalisando de maneira absurdamente perturbadora todo o fluxo da reação contextual que um dia já nos fez relacionar. Ainda não fui capaz de escolher o adjetivo mais - ou menos - apropriado para me expressar, mas se um dia eu aparecer com um factual INAPTOS ou um arrebatador INEFÁVEIS, não se preocupe, é de amor que eu estou falando.