segunda-feira, 23 de julho de 2012

mr confusion.


Hoje eu acordei meio Lucas Silveira, e não gostei da sensação. Posso afirmar-lhes que passei a enxergar o mundo de uma maneira diferente, mas não necessariamente melhor. Sinto coisas que eu não estava habituado a sentir. Eu vivencio coisas que eu jamais sonharia em viver, pois eu tinha medo de ser sentenciado à reclusão por todos esses sentimentos que hoje controlam o meu coração.
Reclino a cabeça e fito um ponto aleatório no céu, talvez sejam as estrelas, mas elas não estão mais lá. Não interessa o que está lá, mas é lá que eu permaneço, apenas observando e sentindo esse vazio que hoje ecoa incessantemente dentro de mim. Hoje eu desaprendi a lidar, ou talvez eu simplesmente nunca tenha aprendido. Me sinto perdido entre pensamentos e memórias reclusas, que já dão sinal de desgaste e me fazem transformar acontecimentos simples em superproduções, eventos cinematográficos.
Eu sempre quis essas histórias imperfeitas para contar, e busquei isso nos filmes, já que eles sempre serviram de base para os meus dias. Esse foi o principal motivo para buscar o papel de protagonista na minha própria vida. Eu já estava cansado de ser o coadjuvante da história e estava cansado de ver o destino escapando por entre meus dedos. Estava disposto a fazer cada momento virar a mais incrível das aventuras, mas eu esqueci que o drama e o suspense continuam a ser os estilos que mais ditam o tom dessa jornada desarmoniosa que eu chamo de vida.
Eu acordei absolutamente confuso e por alguns instantes me senti escravo de minhas próprias palavras. Mas essa sensação não durou muito pois logo percebi o quão insignificantes parecem as palavras quando comparadas a algo muito maior. Descobri que as palavras são como nós, pequenas demais na imensidão das galáxias. Mas também descobri que preciso montar um caminho repleto de palavras para chegar ao tal horizonte infinito, pois só elas me permitem chegar a esse 'algo maior' que hoje eu passei a chamar de sonho.
Hoje eu senti algo diferente ao olhar para o céu. Senti como se eu fizesse parte do ar e percebi que o céu me atrai bem mais que o chão. Acordei também com a estranha vontade de me tornar astronauta. Talvez esse seja mais um daqueles devaneios incertos que a vida nos proporciona, e que me traz de volta àquela velha história de transformar as coisas simples em acontecimentos bizarros. Talvez eu queira ser um astronauta simplesmente para poder te enxergar milhões de vezes menor, sem ter a certeza de onde você está e assim evitando todo o mal que você me faz. Talvez eu queira ser um astronauta apenas para poder provar que a Terra não é azul, já que daqui eu só vejo cinza, mas eu não sei ao certo, já que hoje eu acordei repleto de dúvidas que antes eu não possuía.
Olho para mim mesmo e me procuro, mas eu não encontro nada. Tudo o que vejo são zilhões de pontos de interrogação percorrendo minhas veias, e cada um deles me leva para um caminho diferente. Eu sei que eu nunca fui daqueles que fazem sentido e por isso me sinto confuso perante o meu próprio ser, sinto que estou em busca de algo que sequer existe. Passei a me perguntar qual seria a razão para tanto mistério, e mais uma vez fui obrigado a reconhecer a influência dos filmes sobre o meu ser.
De repente a minha vida parece ter escurecido, mas quando eu fecho os olhos, nenhuma luz se apaga. Me deparo com a solidão, que sempre andou ao meu lado, mas que hoje se faz mais presente do que nunca. Encaro a parede e tudo o que ouço são meus batimentos cardíacos (que continuam acelerando conforme dúvidas vão surgindo) misturados à minha respiração (que se torna ofegante diante de tanta confusão). Lucas, afinal que silêncio é esse que não é cessado pela tua voz? Esse silêncio é perturbador, mas me faz sentir vivo. E é desse canto escuro (ouvindo os ruídos da solidão) que eu te observo, estudando a língua dos olhos e percebendo que eu realmente estou tão perdido quanto você.

céu.

Cheguei a conclusão de que não pertenço a lugar algum. Eu não sei que direção tomar ou quais ventos me guiar. Sou apenas um pirata sem bússola. Sou apenas um marujo que usa remos. Navegar sempre foi tão devagar e isso me fez sinceramente preferir os pássaros. 
Se a liberdade tivesse uma cor, ela seria azul. Ahhhh o azul . . . Tudo fica tão bonito de azul, até mesmo as lágrimas hoje desenhadas são mais belas de azul. Aliás, quem diria que a tristeza fosse capaz de possuir beleza? Mas eu ainda prefiro o céu. Acho que queria ser uma nuvem. Já fiquei me perguntando como deve ser a sensação de estar lá de cima, apenas observando a imensidão formando-se bem na frente de nossos olhos.
Pássaros. Definitivamente pássaros. Imagina poder voar para qualquer lugar, imagina poder fugir de tudo que está sobre a terra, sentir o céu, respirar o ar da liberdade, afinal você se sente livre, você é livre. Mas infelizmente o mais próximo que chego do céu é quando observo o seu reflexo no mar. Sou um pirata sem navio, um roubador de sonhos velejando sonhos no mar. E não, eu não preciso de navio, pois num barquinho de papel eu posso voar.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

sentimento.

Não é apenas mais um daqueles dias em que tudo parece dar errado, não é mais uma oportunidade que aparecerá em vão na tua vida, não, não é nada disso. É apenas um sentimento que mistura-se à nostalgia proporcionada por aquela carta que permanece guardada com você, mesmo você sabendo que ela não deveria estar ali. Mistura-se também ao egocentrismo torto que nasceu em ti anos atrás, e que ainda se mantém presente em decisões que afetam todo o nosso sistema, aquele mesmo, criado com a melhor das intenções, mas que veio a tornar-se ineficiente ao longo dos anos, devido a toda essa mistura de sentimentos.
Mas o mais escasso dos sentimentos está de volta, sim, ele mesmo. Quando você finalmente pensou que estava livre, ele voltou para te atormentar. Quando você conseguiu fechar os olhos, ele se fez presente na tua mente, controlando qualquer outro tipo de emoção que você pudesse sentir. Não te coube nos olhos tamanha emoção e as lágrimas foram derramadas, gota a gota, por todo o teu rosto, numa tentativa falha de te fazer refletir. Não coube em ti tamanha pressão, e as palavras foram saindo, uma a uma, em uma ordem que não parecia produzir sentido algum para os outros, mas que no fundo, todos entendiam muito bem, só não demonstravam tal entendimento, ou simplesmente não queriam entender, com medo do que aquilo poderia significar.
Esse sentimento me fez não querer mais saber do amanhã, pois os dias continuarão a passar, e nós aqui continuaremos, tentando juntar as peças desse quebra cabeça proporcionado pela vida, porém no fundo todos nós sabemos que ele jamais estará completo, pois o fim, antes longe, se aproxima lentamente, destruindo cada uma dessas peças que um dia fizeram nosso quebra cabeça parecer completo.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

era uma vez.


Não. Risque o "era uma vez". Apague, por favor. Ela não quer começar com "era uma vez", ela quer tudo, menos isso. Afinal, tudo o que começava com "era uma vez" teria que terminar em um castelo e com um "fim" escrito em uma caligrafia desajeitada, mas com uma precisão incrível. 

Ela não queria o castelo e tão pouco queria a caligrafia desajeitada. Não queria a valsa, não queria o violino, não queria mais ouvir essas histórias perfeitas, já que nesse reino distante a perfeição não existia mais. Ela não queria a caminhada pelo campo, não queria o salto alto, não queria o vestido rodado, não queria se balançar conforme a música. Não fora feita para se balançar conforme a música, já que a melodia indicava que a perfeição poderia estar voltando, mas não era isso que ela queria.
Se balançava aleatoriamente, conforme a música que vinha de dentro, aliás, tudo era a base disso. Só dançava conforme a música se o compasso do coração se fundisse com o interior de suas memórias, aquelas que a levavam de volta à uma terra cercada de incertezas e rodeada de velhas histórias, que se mantinham vivas mesmo com o passar do tempo.

Ela não queria mais vivenciar todas essa mentiras, não, ela não precisava disso. Ela não queria sonhos que levariam a lugar nenhum, ela preferia que o lugar nenhum se transformasse no lugar dos sonhos. Não queria as estrelas, não queria o príncipe encantado, não queria misturar suas lembranças. Lembranças que estavam em um papel surrado, diluído pelo tempo e escondido a sete chaves, dentro de um livro que contava a mais perfeita das histórias, aquelas que começavam com o "era uma vez".

terça-feira, 3 de julho de 2012

imensidão.

Por diversas vezes a lua manteve-se fiel ao sol, tornando-se a única fonte confiável de luz que iluminava este ambiente. A lua era capaz de manter viva a esperança dentro das pessoas que aqui viviam, mas não foi suficiente, logo as pessoas perceberam que não havia mais salvação. Todas foram afogadas perante esse rio de solidão que aqui se formou, todas sucumbiram perante esse mar de rochas gigantescas, que nos sufocou até não aguentarmos mais.
Dúvidas pairavam sob a cabeça dos mais inocentes, aqueles que ainda conseguiam enxergar o mundo com bons olhos apesar da destruição já aparente. A dúvida causou insegurança, que somada ao descontentamento gerado por tantas desilusões, encerrou de vez com o ciclo místico que ainda se mantinha presente neste local. O eclipse nunca mais aconteceu e todas as almas passaram a vagar sem rumo, por centenas de quilômetros, sob o olhar atento da lua, que ainda se faz presente na imensidão das galáxias.