Eu também postei uma adaptação de um dos capítulos do blog, que eu lhes disse que seria postado em duas partes. Sem mais delongas, vamos a segunda parte. Caso você ainda não tenha lido a primeira parte, basta clicar aqui.
(Continuo sofrendo com a escassez de imagens e continuo gostando de pandas. Perdão.)
-------------
Sempre que me coloco a pensar sobre o termo "amor não correspondido", aliás, lembro da famosa frase do escritor Stephen Chbosky, durante o romance "As vantagens de ser invisível": "Nós aceitamos o amor que acreditamos merecer." Eu li muitos livros nesses últimos dois anos, mas pouquíssimas frases me tocaram tanto quanto essa. Faz muito sentido, se você parar para analisar. E olha que eu nem sou um desses caras desiludidos amorosamente. Na verdade, nunca cheguei a amar uma menina. Já tive aquelas paixõezinhas de adolescente - onde você coloca a garota num pedestal e a venera silenciosamente -, mas só isso. O problema é que, justamente por "venerar silenciosamente", a garota não fica sabendo da tua paixão, então obviamente teu amor nunca será correspondido. Isso é uma droga.
"Eu vivo sendo enganada pelo meu coração, Greg. Sempre acho que encontrei a pessoa certa, mas mais cedo ou mais tarde ela acaba provando que me enganei. Tem sido assim nos últimos meses. Por que será que isso acontece?"
"Vick, acredite, eu realmente não sou a pessoa mais indicada para falar sobre o amor."
"Você já amou alguém, Greg?"
Apenas balancei a cabeça, negativamente.
"Imaginei que fosse responder isso."
"Ah é? E por quê?"
"Não sei. Mas não consigo imaginar você apaixonado por alguém."
"Ué, e por que não?"
"Não sei. Acho você fofo demais pra isso."
A conversa não estava fazendo sentido algum. Mas como aquela noite inteira não estava fazendo sentido, resolvi não criar caso em cima disso.
"Cara, tem uma teoria do Nietzsche que relaciona o amor com a posse. Ele diz que o ser que ama quer ser possuidor do ser amado; quer ter poder absoluto sobre o ser amado. Não digo que essa teoria seja cem por cento verdadeira, mas isso acontece em boa parte dos amores da atualidade, e, enquanto isso acontecer, eu prefiro não acreditar no amor. Amor não é posse. Amor é tudo aquilo que você vivencia diariamente, na esperança de que algum dia você possa vivenciar isso a dois."
Analisando melhor, eu não sei o que me deu na cabeça para citar Nietzsche no meio de uma conversa sobre amor. Cara, por que raios eu citei Nietzsche no meio de uma conversa sobre amor? Se fosse qualquer outra garota, eu teria sido deixado sozinho no sofá naquele exato momento. Mas a Victória acabou achando interessante, e passamos os trinta minutos seguintes divagando sobre teorias nietzscheanas.
Em um determinado ponto da conversa, ela sugeriu que descêssemos para pegar alguma bebida. Ao chegarmos lá embaixo, encontramos o Miguel sem camisa e completamente bêbado, fazendo um discurso para as pessoas que estavam na festa. Eu achei hilário! Queria ter ficado lá para ver, mas a Victória me puxou para a cozinha. Ela disse que já tinha visto aquela cena diversas vezes, porque o Miguel sempre apronta dessas quando fica bêbado. Ainda que fosse, continuei achando engraçado.
Ficamos conversando no balcão da cozinha, e a Victória me deu uma bebida que tinha gosto de felicidade. Não sei o que era, mas era realmente muito bom. Fui avisado, entretanto, que tinha álcool na bebida, e que eu não deveria exagerar. Concordei prontamente.
Nossa conversa foi interrompida pela Fernanda, uma menina do 3ºA, que vive atrás do Miguel. A Fernanda cochichou algo no ouvido da Victória, que imediatamente perguntou se eu não me incomodaria caso ela saísse uns minutos para "resolver um negócio". "Claro que eu me incomodo. Vou ficar sozinho aqui na cozinha, com um copo de bebida na mão, aparentando estar abandonado em uma festa onde não conheço praticamente ninguém? Sem chance!", pensei.
"Claro, Vick. Sem problemas!", respondi.
Decidido a não alimentar a ideia de "estar abandonado na cozinha", fui procurar o Miguel. Antes que eu o encontrasse, porém, fui novamente encontrado pelo cara que senta com a gente no intervalo, e que eu ainda não sei como se chama. Ele pediu para que eu tomasse o resto da bebida que estava com ele, porque ele "já estava ficando bêbado". Passados dois minutos, ele desmaiou em um dos sofás da sala, e eu fui novamente atrás do Miguel. Desta vez, o encontrei rapidamente.
"Eaí cara, como ta indo com a Vick?"
"Pra falar a verdade, eu não sei. Mas a gente tá conversando."
"Vai fundo, Greg. E vê se não vai vacilar com ela. Ela não merece isso."
O Miguel é um dos poucos caras que, apesar de bêbado, consegue conversar normalmente. Acredito que isso seja uma qualidade e tanto! Voltei à cozinha com ele, e continuamos conversando. O que aconteceu nos minutos seguintes, no entanto, eu simplesmente não consigo me lembrar. Foi como se eu tivesse apagado. A última coisa de que me lembro é estar na cozinha, conversando com o Miguel sobre a Victória. Após isso, lembro de estar novamente no andar de cima, beijando a Victória em um dos quartos da casa. Não tenho a menor ideia de quanto tempo se passou entre esses dois acontecimentos, mas tenho quase certeza de que isso foi culpa da bebida com gosto de felicidade.
Não sei se eu já estava beijando a Victória há muito tempo, ou se tinha acabado de beijá-la. Na hora, isso nem importava. Eu estava feliz pelo que estava acontecendo - mesmo que eu não estivesse nas condições mais adequadas para discernir exatamente o que estava acontecendo. E eu estava feliz por estar acontecendo com a Victória, afinal, em nenhum momento eu realmente acreditei que isso pudesse acontecer.
Fomos interrompidos algumas vezes por casais que entravam no quarto com propósitos semelhantes, mas que, ao verem que o mesmo já estava ocupado, forçavam um pedido de desculpas desajeitado e procuravam o quarto mais próximo. Sempre que isso acontecia, ficávamos rindo durante um bom tempo. Acho que isso também era consequência da bebida com gosto de felicidade.
ps: bebidas com gosto de felicidade também dão ressaca. E como dão!
Nenhum comentário:
Postar um comentário