Hoje eu acordei meio Lucas Silveira, e não gostei da sensação. Posso afirmar-lhes que passei a enxergar o mundo de uma maneira diferente, mas não necessariamente melhor. Sinto coisas que eu não estava habituado a sentir. Eu vivencio coisas que eu jamais sonharia em viver, pois eu tinha medo de ser sentenciado à reclusão por todos esses sentimentos que hoje controlam o meu coração.
Reclino a cabeça e fito um ponto aleatório no céu, talvez sejam as estrelas, mas elas não estão mais lá. Não interessa o que está lá, mas é lá que eu permaneço, apenas observando e sentindo esse vazio que hoje ecoa incessantemente dentro de mim. Hoje eu desaprendi a lidar, ou talvez eu simplesmente nunca tenha aprendido. Me sinto perdido entre pensamentos e memórias reclusas, que já dão sinal de desgaste e me fazem transformar acontecimentos simples em superproduções, eventos cinematográficos.
Eu sempre quis essas histórias imperfeitas para contar, e busquei isso nos filmes, já que eles sempre serviram de base para os meus dias. Esse foi o principal motivo para buscar o papel de protagonista na minha própria vida. Eu já estava cansado de ser o coadjuvante da história e estava cansado de ver o destino escapando por entre meus dedos. Estava disposto a fazer cada momento virar a mais incrível das aventuras, mas eu esqueci que o drama e o suspense continuam a ser os estilos que mais ditam o tom dessa jornada desarmoniosa que eu chamo de vida.
Eu acordei absolutamente confuso e por alguns instantes me senti escravo de minhas próprias palavras. Mas essa sensação não durou muito pois logo percebi o quão insignificantes parecem as palavras quando comparadas a algo muito maior. Descobri que as palavras são como nós, pequenas demais na imensidão das galáxias. Mas também descobri que preciso montar um caminho repleto de palavras para chegar ao tal horizonte infinito, pois só elas me permitem chegar a esse 'algo maior' que hoje eu passei a chamar de sonho.
Hoje eu senti algo diferente ao olhar para o céu. Senti como se eu fizesse parte do ar e percebi que o céu me atrai bem mais que o chão. Acordei também com a estranha vontade de me tornar astronauta. Talvez esse seja mais um daqueles devaneios incertos que a vida nos proporciona, e que me traz de volta àquela velha história de transformar as coisas simples em acontecimentos bizarros. Talvez eu queira ser um astronauta simplesmente para poder te enxergar milhões de vezes menor, sem ter a certeza de onde você está e assim evitando todo o mal que você me faz. Talvez eu queira ser um astronauta apenas para poder provar que a Terra não é azul, já que daqui eu só vejo cinza, mas eu não sei ao certo, já que hoje eu acordei repleto de dúvidas que antes eu não possuía.
Olho para mim mesmo e me procuro, mas eu não encontro nada. Tudo o que vejo são zilhões de pontos de interrogação percorrendo minhas veias, e cada um deles me leva para um caminho diferente. Eu sei que eu nunca fui daqueles que fazem sentido e por isso me sinto confuso perante o meu próprio ser, sinto que estou em busca de algo que sequer existe. Passei a me perguntar qual seria a razão para tanto mistério, e mais uma vez fui obrigado a reconhecer a influência dos filmes sobre o meu ser.
De repente a minha vida parece ter escurecido, mas quando eu fecho os olhos, nenhuma luz se apaga. Me deparo com a solidão, que sempre andou ao meu lado, mas que hoje se faz mais presente do que nunca. Encaro a parede e tudo o que ouço são meus batimentos cardíacos (que continuam acelerando conforme dúvidas vão surgindo) misturados à minha respiração (que se torna ofegante diante de tanta confusão). Lucas, afinal que silêncio é esse que não é cessado pela tua voz? Esse silêncio é perturbador, mas me faz sentir vivo. E é desse canto escuro (ouvindo os ruídos da solidão) que eu te observo, estudando a língua dos olhos e percebendo que eu realmente estou tão perdido quanto você.
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